Do trio que foi de Fafião ao Borrageiro coube-me a mim traduzir aquela caminhada neste espaço....
Pessoalmente quando escrevo um texto a parte mais difícil é o nome que lhe damos. Como se fosse a marca, a sua impressão digital, aquilo que o regista, mesmo que seja apenas em memórias de quem o leu, como neste caso. Este terá que ser o resumo do resumo e portanto não consigo lembrar-me de mais nenhum título para esta descrição do que 10:10.
Não é para falar de numeros, nem tão pouco o resultado que tivemos num qualquer jogo em plena montanha do gerês.
Às 8H50 já estávamos a trilhar o percurso ao longo do rio Conho, largados em velocidade a partir do último reduto de civilização, a Ponte da Pigarreira.
O trilho é simplesmente... verde, na água, nas pedras, no terreno, de arvores frondosas que teimaram enfrentar o inverno. Árvores que se debruçavam sobre a água como que à procura de beber aquilo que o céu já não lhes saceia, contrariando assim uma ordem natural à qual sempre nos habituamos a olhar na verticalidade da árvore. A natureza também tem destas coisas.
Dos cerca de 400 mts de altitude do ponto de partida avançámos até ao Pico dos Ovos a cerca de 1.200 mts e já sem a vegetação na acepção que lhe damos em tons verdes garridos. Aqui a envolvente era apenas manchada de pequenos pastos, com alguns abrigos e uns quantos castanheiros ainda à espera da mãe Primavera. Boa! Chegámos primeiro, mas trazemos boas noticias. “A Primavera já está a pintar folhas verdes lá em baixo”. Por estas bandas e porque o a barriga já sofria e berrava contra a cabeça que a governa como dizia o meu amigo abade, parámos em Mouriscas bem acima dos 1.100 mts de altitude, com vistas para a Rocalva.
Antes de assentar o frugal, mas saboroso almoço, ainda tivemos uma companheira que por questões de segurança entendemos afastar .... para bem longinho. Uma vibora, em contacto de 3º grau.
Meia hora depois de iniciar o repasto já desciamos outra vez o cinzento das lajes, de granito. Autênticas faces voltadas ao sol, como que o leito das montanhas que entretanto já se levantavam à nossa frente. Alto da Torrinheira e Borrageiro II. Porque a pedalada era boa e ninguém tinha ido para ali só passear, confesso, pronto, decidimos novamente subir até bem pertinho dos 1.300 mts quase ao pé do Borrageiro II e admirar mais uma ferida do homem. Mais uma minas, estas com um impacto menos violento, mas que nos faz mais uma vez trazer à consciência a nossa própria inconsciência. Daí até ao final da caminhada foram mais 3 horitas sempre pela crista dos montes, guiados apenas pela carta militar colada em fita cola e à luta com a visão de pequenas mariolas que nem sempre estavam onde nós queriamos... mais um exemplo da nossa vontade contrariada.
Enfim, 10h e 10 minutos depois, com cerca de 37 Km andados e mais ou menos 3.000 mts de desnivel acumulado, alcançamos o nosso automóvel. Mas ainda tivemos tempo de dar a extrema unção às botas do Águia Real. Por consciência, entendemos não registar a penosidade de tal momento.
Os caminheiros Galga Montanhas o decano, Águia Real o guia e Tempestade o escritor.
Texto da autoria de João Nuno Pereira (Um Par de Botas)
Fotos por: João Nuno Pereira e Miguel Rodrigues
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